Eu represento muita gente
que agora não pode falar
que se espalham por esta terra
para dela o pão tirar
Eu já vi sangue em minhas mãos
trabalhei no canavial
já andei de pé no chão
fui menos homem que animal
Eu já vi a lágrima dos homens
que choravam a falta de pão
que conviviam com a morte
no chão quente do sertão
Eu já dormi nas lindas praças
de um Brasil desigual
vi fome e dor nos olhos
dos habitantes do País do Carnaval
Eu nunca li livro algum
nem sei escrever meu nome
sei que o homem vira lixo
quando passa muita fome
Também já vi o mar de longe
só através da televisão
vi nela um País tão grande
de um povo sem coração
Também já fui brinquedo
daqueles que possuem o poder
e abomino todo aquele que
tem olhos e se nega a ver
Vi o homem com poder
comprando nossa ignorância
por isso todo dia antes de dormir
peço a Deus que apague
da minha lembrança
a triste história desta criança
que encha meus filhos de glória
e a todo o povo de esperança.
(Valéria Antunes, 2003)
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