segunda-feira, 31 de julho de 2017

Abençoado Por Deus

Amigos, estou chegando.
Venho do lado da serra
Onde dorme mal a guerra
E a paz se vai despertando.
Assim, me vou adentrando
Em um rincão de beleza
Num berço da natureza
Abençoado por Deus
Que conduz os passos meus
E me arranca a tristeza.

Enquanto a mesa se ajeita
Para a refeição diurna
Eu, feito ave noturna,
Contemplo a mata perfeita
É outra criação feita
Por Nosso Senhor sagrado.
Ele têm me abençoado
De maneira inexplicável.
O Criador é implacável
Quando nos tira o pecado.

Deus está sempre comigo
Onde meu corpo estiver.
Pode vir o que vier
Conto com meu melhor amigo.
Ele livra do perigo
Quem com ele sempre está.
Do Piauí ao Paraná,
De Pernambuco a Goiás,
Do Acre a Minas Gerais,
Do Rio Grande ao Amapá.

Quando Deus, Nosso Senhor,
Faz valer sua vontade,
A santa paz nos invade
E a alma se enche de amor.
É o Poder do Criador
Que acaba com a enfermidade.
Do sertão até a cidade
Deus nos tira a solidão,
Nos acalma o coração
E nos remove a saudade.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Cristão Remido

As portas que Deus nos abre
É certo que ninguém fecha.
Não se pode deixar brecha
Pro bicho amaldiçoado.
Nós, que já temos confiado
No Senhor Onipotente,
Devemos seguir em frente,
Pois pra frente se caminha;
E a má intenção que tinha,
É, agora, inexistente.

Portanto, daqui pra diante,
Embora sendo tentado,
Não vou voltar ao passado
E deixarei a todo instante
Que o meu coração levante
Um clamor ao Senhor Jesus.
Ele deu a vida na cruz
Pra remir-nos do pecado.
Por Seu sangue fui lavado
E hoje só vejo a luz.

Assim que o dia amanhece,
Eu dou um grito bem forte.
Grito ao Sul e ao Norte:
“Glória a Deus que Ele merece!”
Depois, quando anoitece,
Eu faço minha oração.
E peço a Deus compaixão
Pra entender quem me entende
E agradecer porque compreende
O meu simples coração.

Hoje, aqui neste espaço,
Venho a Deus agradecer
E, se a Ele apetecer,
Mais um pedido eu faço:
Peço pra dar um abraço
Nos puros de coração
Que, por certo, a Ti verão
Lá no Dia do Juízo.
Quero estar no Paraíso
Com Teus filhos, meus irmãos.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Por Quem Os Touros Tremiam

Não é querer me gabar,
Mas eu sou um bom toureiro.
Nasci em 10 de janeiro
Na terra de Calabar.
Meu pai foi dono de bar,
Minha mãe, dona de casa.
Tinha um pássaro sem asas
Criado a Toddy e Chambinho
Que morreu pequenininho
Em contato com vivas brasas.

Eu com três anos, apenas,
Comecei a me empolgar
Em querer um dia tourear
E conquistar às morenas.
Minhas mãos eram pequenas.
Então, fui me adaptando.
Do negócio fui gostando
E decidi não parar
Mais o tempo foi passar
E mais fui me aprimorando.

Hoje, porém, com tristeza,
Recordo os anos dourados
Que ficaram no passado,
Que assim como a beleza
Não se deve pôr na mesa
Nem deve ser esquecido.
Tudo o que tenho vivido
Devo à toureação
Meu pai deu em minhas mãos
O prazer que tenho tido.

Estou velho, aposentado,
Meu filho faz o que quer
Nem ele, nem minha mulher
Querem me ver sossegado.
Tô com um pé no passo errado,
Mas querem me ver sofrendo
Toureando e quase perdendo
A vida que eu levo agora.
Se eu tourear, sem demora,
Na arena, é mais um morrendo.

Por mim, todos chorarão.
Os touros, principalmente.
Me enterrarão, finalmente
E uma cruz fincarão.
Mas a cor do meu caixão
Será a da mesma sangria
Que me dará alegria
Quando eu ver do outro lado
Chorando estes desgraçados
Que vão me matar um dia.

É agora, eu me entrego.
Não morrerei numa arena
Mas é a última cena
De um moribundo já cego.
Eu fui bem feliz, não nego.
Porém, deixo-vos o adeus,
Espero que os filhos meus
E a minha mulher amada
De mim, não esperem nada.
Afinal, vou morar com Deus.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Na Geladeira

Conta-se na Espanha uma história levada para lá pelo grego Anakis Soutrakpoulos (1904-1971), que era assim:

Um belo dia, São Pedro decidiu dar uma volta pelo Céu, para ver como andava o movimento dos que chegavam para a triagem. O que ele viu, porém, foi uma anarquia, uma desordem total. Às 18h, exatamente a tempo de iniciar o segundo turno (que se estendia até às 6h), mandou chamar a equipe comandada pelo arcanjo Gabriel para uma reunião.

O arcanjo Gabriel era, à época, responsável pelo primeiro turno (das 6h às 18h), onde o fluxo de pessoas costumava ser maior. Por isso, a reunião era necessária para ajustar alguns pontos. São Pedro tomou uma decisão drástica:

- Pois bem, irmãos, a partir de agora, as coisas mudam de figura aqui no Céu. Os que chegarem tem que contar como morreram. Se a história do sujeito for triste, mas bem triste, daí ele entra. Caso contrário, vai pro Purgatório e, se necessário for, dali pro Inferno.

Então, o arcanjo acordou mais cedo do que de costume no dia seguinte, até pra organizar a fila.

- Galera, silêncio! Por favor, antes de começarmos, gostaria que vocês se organizassem em uma fila indiana, que vou atender na ordem.

Depois da fila formada, o primeiro a ser atendido foi um homem de traje social, vestido como se fosse ir para um escritório, que contou:

- Olhe, amigo... Eu andava desconfiado que minha bela esposa me traía. Então, ontem, voltei uma hora mais cedo pra casa, para poder pegá-la em flagrante. Ao chegar ao quarto, ela estava pelada, mas sozinha. Procurei por todos os lados da casa para ver se, por algum acaso ela escondia algum amante. Porém, no que eu resolvi desistir da busca, olhei pra sacada e vi duas mãos se pendurando. Certeza que era o desgraçado!

- Escute - interrompeu o arcanjo - não fale nestes termos de outras pessoas!

- Posso continuar, excelência? - disse o homem, ainda nervoso pelo ocorrido - Então, fui até a sacada e pisei naquelas mãos até que ele caísse. O porém é que o infeliz caiu em cima do toldo de um restaurante que fica ao pé do prédio onde eu morava. Para matá-lo de vez, corri pra dentro de casa pra pegar a coisa mais pesada que tivesse ali e jogar em cima do miserável. Com minhas forças raivosas, desliguei a geladeira, tirei-a da tomada, carreguei-a até a sacada e joguei nele, tanto que ele morreu na hora. Mas fiz tanta força que acabei passando mal e caí, em cima da geladeira. Por isso estou aqui.

- É... - Gabriel relutou em deixá-lo entrar, mas estava cumprindo ordens superiores - Boa história. Pode entrar.

O próximo foi outro homem, desta feita vestindo um traje de atleta, desses que correm feito loucos nas maratonas mundo afora.

- Pois é, seu Anjo. Eu tava me alongando na sacada do meu apartamento, mas acabei perdendo o equilíbrio e comecei a cair. Sorte que me agarrei na sacada do apartamento de baixo. Eu só não teria morrido se não fosse um doido pisar nas minhas mãos e me jogar uma geladeira meia-hora depois. Por isso eu tô aqui.

- Então tá, né? Entre.

E o terceiro que chegou, ao que consta, surpreendeu o arcanjo ao dizer:

- Tchê, tu não vais acreditar, mas eu estava pelado, dentro de uma geladeira!

Dá pra acreditar que esse também entrou?

Presente de Deus

Quando dizia um poeta:
"Olhai aos apaixonados",
Eu os via, encantados,
E me apontava uma seta,
Indicando em linha reta
Para onde caminhar.
Ainda estou a andar
Nessa estrada sem destino
E me transformo em menino
Querendo asas pra voar.

E pela estrada seguindo,
À margem, vi um jardim.
Flores ao redor de mim.
Tava tudo muito lindo.
Mas, quando eu já estava indo,
As flores foram murchando.
Já fui me decepcionando
Com tudo o que acontecia,
Pois não era o que eu queria,
O que eu estava desejando.

Precisamente, às dez e oito,
No meio daquela estrada,
Surgiu um alguém do nada
Que me deixou meio afoito.
Vinha comendo biscoito
E tomava um bom café.
Ali, eu me enchi de fé.
Perguntei ao Deus bendito:
"De fato, é tudo bonito.
Mas e esse ser, quem é?"

Nosso Senhor me falou:
"É o que te reservei.
Para Ti bençãos deixei."
E depois Ele parou.
Já que Ele abençoou
Então, adeus, vaidade.
Que seja feita a vontade
De Deus, Todo-Poderoso
Que é misericordioso
E o Criador da Verdade.

Daquele meigo futuro,
Quando me aproximei,
Nesta hora me acordei,
Ainda estava escuro.
Mas me sentia seguro
Por com Deus eu conversar.
O que Ele abençoar
Pra mim, tá de bom tamanho.
Eu mesmo até fico fanho
Quando de Deus vou falar.