terça-feira, 4 de abril de 2017

Por Quem Os Touros Tremiam

Não é querer me gabar,
Mas eu sou um bom toureiro.
Nasci em 10 de janeiro
Na terra de Calabar.
Meu pai foi dono de bar,
Minha mãe, dona de casa.
Tinha um pássaro sem asas
Criado a Toddy e Chambinho
Que morreu pequenininho
Em contato com vivas brasas.

Eu com três anos, apenas,
Comecei a me empolgar
Em querer um dia tourear
E conquistar às morenas.
Minhas mãos eram pequenas.
Então, fui me adaptando.
Do negócio fui gostando
E decidi não parar
Mais o tempo foi passar
E mais fui me aprimorando.

Hoje, porém, com tristeza,
Recordo os anos dourados
Que ficaram no passado,
Que assim como a beleza
Não se deve pôr na mesa
Nem deve ser esquecido.
Tudo o que tenho vivido
Devo à toureação
Meu pai deu em minhas mãos
O prazer que tenho tido.

Estou velho, aposentado,
Meu filho faz o que quer
Nem ele, nem minha mulher
Querem me ver sossegado.
Tô com um pé no passo errado,
Mas querem me ver sofrendo
Toureando e quase perdendo
A vida que eu levo agora.
Se eu tourear, sem demora,
Na arena, é mais um morrendo.

Por mim, todos chorarão.
Os touros, principalmente.
Me enterrarão, finalmente
E uma cruz fincarão.
Mas a cor do meu caixão
Será a da mesma sangria
Que me dará alegria
Quando eu ver do outro lado
Chorando estes desgraçados
Que vão me matar um dia.

É agora, eu me entrego.
Não morrerei numa arena
Mas é a última cena
De um moribundo já cego.
Eu fui bem feliz, não nego.
Porém, deixo-vos o adeus,
Espero que os filhos meus
E a minha mulher amada
De mim, não esperem nada.
Afinal, vou morar com Deus.

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